Eu gostei da nova campanha de propaganda da Net para TV: "No dia em que eu virei um Net".
Nunca gostei das campanhas anteriores dessa empresa em nenhuma de suas edições e sempre que aparecia uma nova eu balançava a cabeça e ponderava se a campanha que era péssima mesmo ou era eu que estava ficando cada vez mais rabugenta.
Por isso, ver o Hudson Senna entrar com um violãozinho maroto foi uma bênção. Fui gostando de todas as edições, até a do sapatinho de pano pra não riscar o chão rarara, mas gelei quando vi uma das últimas a serem veiculadas. A da filha, Suzana.
O ator/cantor entra em cena com o violão e a filha está numa mesa de estudos entediada. O texto diz que a filha Suzana quer adquirir cultura "mas não tem a menor paciência". Então a solução é assinar a Net.
Bateu no ponto.
Claro que arte de maneira geral, cinema e teatro em particular são fundamentais. E a TV a cabo está trazendo muita coisa de boa qualidade. Mas nada disso será absorvido de maneira plena ou minimamente compreensível sem estudo prévio. Uma coisa não substitui a outra. Recentemente assisti de cabo a rabo toda a série Roma produzida pela HBO e adorei. Compreendi conceitos, alinhavei períodos e me deliciei com uma produção primorosa. Mas certamente não teria aproveitado nem 10% da coisa se não houvesse primeiro passado pelos livros de história.
Eu gosto muito de televisão, adoro internet e não sou contra nenhum dos avanços tecnológicos. Mas nenhum deles jamais substituirá horas diárias de estudo sério. E esse caminho passa, necessariamente, pela leitura.
E o que me irrita profundamente é essa condescendência com a chamada "geração Y". Até o nome dado eu acho ridículo. Melhor, o fato de terem dado nome a isso é ridículo.
Acho lamentável nomearem como fenômeno sociológico o produto de décadas de negligência paterna e alienação cultural. Ou melhor, nomear, tudo bem. É papel da sociologia entender e classificar comportamentos. O que me deprime é o fato de universidades reunirem seu corpo docente uma semana antes do início do ano letivo pra palestras que tem o intuito único de mostrar como funciona a cabeça da "geração Y" para imediatamente se adequar a ela. Os alunos não lêem livros? Damos resumos. Não fazem pesquisa? Confeccionamos apostilas. Não lidam com papel? Fornecemos matéria condensada em lindos e caríssimos netbooks. E, como sugere a propaganda mencionada, tem preguiça de estudar? Assinamos a Net e está tudo resolvido.
Não existe forma fácil de adquirir conhecimento. Não existe fórmula mágica de aprender sem esforço. E é nosso papel de pais e educadores propiciar condições para o exercício do aprendizados de nossos filhos. E determinados conceitos não mudarão jamais. Estudar é difícil, é cansativo e não será divertido o tempo todo. Exige concentração, esforço, responsabilidade e disciplina.
Todo o avanço tecnológico conquistado servirá sempre de base de apoio, ferramentas de pesquisa e complementação de formação cultural.
E esse conceito do caminho fácil tão naturalmente defendido me ofende. E estar numa propaganda de TV a cabo me revolta.
Eu só torço pra todas as Suzanas estarem juntas e inscritas na mesma prova de mestrado que eu.
Aí sim. Seria divertido.